Uma pessoa me fez uma pergunta no Instagram, sobre zodíaco tropical e zodíaco sideral. Era algo como “por que não Zodíaco sideral?”
A minha resposta foi mais ou menos “Mas por que você pensa nele?”
É claro que não é uma resposta de verdade. É que eu já toquei neste assunto diversas vezes: no meu livro “Introdução à Astrologia Ocidental”, em notas em outros livros, em palestras, em podcasts, em vídeos, em posts nas redes sociais, nos meus cursos, etc.
Com o meu comentário, eu só quis chamar a atenção para um fato óbvio — quem tem que justificar a mudança é quem apresenta a novidade. Se uma determinada técnica funciona, a pergunta “por que não fazer diferente?” precisa ser acompanhada de uma demonstração de que fazer diferente melhora alguma coisa, ou não deve nem ser cogitada.
E, claro, esta demonstração não existe em lugar nenhum.
No entanto, o rapaz que perguntou me mandou uma resposta. Preciso comentá-la, porque ela resume muito bem as incompreensões acerca do assunto.
Não vou dar o nome da pessoa, claro.
Boa tarde, professor! Respondendo ao senhor, "por que eu gosto do sideral? por que eu penso nele?" - é porque eu olhei para os céus. O senhor já havia me explicado que o céu astronômico não corresponde ao astrológico, mas isso não parece ser verdade. Não é correto pensar que na antiguidade os sábios e os astrólogos olhavam para os céus para fazer astrologia? Se eu lhe largar no deserto sem internet ou computador, não olharias para as estrelas para delimitar um mapa? Ora, se um mapa prescreve que astros passam sob signos zodiacais, não se refere a justamente isso ocorrer na realidade? Ou tudo é uma referência abstrata? Não digo que a Ocidental está errada, pois há tempos os dois zodíacos estavam coincidentes. Bom, se o senhor responde que "cabe ao astrólogo fazer a astrologia que lhe diz respeito", continuarei fazendo Sideral e Védica, portanto, pois acredito que Astrologia é uma arte universal, e não dependente de tropicalismo e regionalismo europeu. Muito obrigado!
Vou inserir os comentários no texto, acho que fica mais fácil de entender assim.
Boa tarde, professor! Respondendo ao senhor, "por que eu gosto do sideral? por que eu penso nele?" - é porque eu olhei para os céus.
E, claro, nunca viu um Zodíaco nele, nem sideral, nem tropical.
Zodíaco é uma faixa — uma seção do céu — em torno da Eclíptica. É uma divisão da esfera celeste, um pedaço geometricamente recortado do céu.
Não sei como deixar isso mais claro, eu literalmente desenhei círculos e faixas em bolinhas de isopor (aqui) para explicar isso.
Não tem como você ver o Zodíaco. Tem como ver coisas que estejam nele. “Mas Marcos, isso é o Zodíaco tropical!” Não, qualquer Zodíaco é assim, é a definição dele. “Mas essa é a sua definição!” Não, é a definição correta.
O senhor já havia me explicado que o céu astronômico não corresponde ao astrológico, mas isso não parece ser verdade.
Eu nunca, jamais, em tempo algum disse que o céu astronômico não corresponde ao astrológico. Eu já disse que o céu astronômico não existe — ou melhor, que não existe um objeto, lugar ou figura chamada “Céu” para a astronomia moderna — mas isso é outro assunto.
O que digo com relação a esses assuntos é que Zodíacos e constelações zodiacais não são as mesmas coisas. Por que não são, como explico mais abaixo.
(Falo desde problema, de novo, e de todas as constelações zodiacais relevantes e de várias não-relevantes, aqui).
Não é correto pensar que na antiguidade os sábios e os astrólogos olhavam para os céus para fazer astrologia? Se eu lhe largar no deserto sem internet ou computador, não olharias para as estrelas para delimitar um mapa?
Rapaz, mas que salto. Sim, é claro, os astrólogos olhavam para os céus para fazer astrologia, e recomendo isso viva e insistentemente para quem chegar perto o suficiente de mim.
Mas e daí? Você sabe como se calcula um mapa? Eu sei, e não é usando as constelações. Sim, é feito olhando-se o céu (ou, hoje em dia, o equivalente eletrônico-internético disso), mas a base é a posição do Sol. E, claro muitas tabelas. Ninguém consegue “delimitar um mapa”, se isso incluir a posição dos planetas e das estrelas, porque metade do céu está sempre invisível; às vezes o céu praticamente inteiro está inacessível (metade abaixo do horizonte, a outra metade ofuscada pelo Sol).
Aliás, se você estivesse perdido e querendo determinar a latitude local, por exemplo, você usaria uma estrela — que não está no Zodíaco.
Ora, se um mapa prescreve que astros passam sob signos zodiacais, não se refere a justamente isso ocorrer na realidade?
Isso ocorre na realidade, mas não do jeito que você pensa, porque você parece não saber o que é um signo.
Como eu disse antes, os astros passam sob signos zodiacais. “Signos zodiacais” são quadriláteros medindo 30 graus de comprimento e 16 de largura, que juntos formam um cinturão no Céu chamado de Zodíaco.
Isso é assim para os dois Zodíacos.
Nenhum dos dois é um grupo de estrelas.
Na verdade, as constelações zodiacais — grupos de estrelas com os mesmos nomes dos signos — são às vezes chamados de “signos da oitava esfera” ou “signos do céu das estrelas na astrologia ocidental.
A única diferença entre os dois Zodíacos é o ponto inicial em que a divisão começa. O ponto “0 de Áries” de cada um dos dois.
No Zodíaco tropical, este ponto é a interseção entre a Equinocial e a Eclíptica — o equinócio (de Primavera no hemisfério norte, de Outono no sul). É por isso que os nossos signos não se movem, porque são baseados em um ponto que não se moverá até o fim dos tempos.
No Zodíaco sideral, este ponto é determinado por uma estrela (por isso um é chamado de “tropical” e o outro “sideral”). O mais interessante é que esta estrela, na maior parte dos métodos de determinação (há vários) não é da constelação de Áries. Como — aí sim — é preciso uma estrela que seja visível no céu à época em que o Sol está em Áries, a estrela mais comumente usada é Spica, o espigão de Virgem.
O resto da divisão é exatamente o mesmo. Todos os signos, ao contrário das constelações, medem 30 graus de comprimento, tanto para os ocidentais quanto para os indianos.
Ou tudo é uma referência abstrata?
Como expliquei antes, a referência não é abstrata em nenhum dos dois casos, mas o Zodíaco é invisível — ambos são.
Não digo que a Ocidental está errada, pois há tempos os dois zodíacos estavam coincidentes.
Desculpe, não tem como comentar este trecho sem dizer que o poste se recusar a mijar no cachorro, por motivos certos ou errados, não muda a vida do cachorro. Você não entende um ponto bastante básico das duas astrologias e já gentilmente declina da autoridade de julgá-las.
De qualquer forma, sim, há tempos os dois Zodíacos eram coincidentes. O que nunca aconteceu com as constelações zodiacais porque elas não podem coincidir com a regularidade dos signos — seu tamanho varia enormemente (e sua orientação no Céu também).
Se você tivesse olhado mesmo o Céu, em vez de só usar a expressão como recurso retórico, teria percebido isso.
Bom, se o senhor responde que "cabe ao astrólogo fazer a astrologia que lhe diz respeito", continuarei fazendo Sideral e Védica, portanto, pois acredito que Astrologia é uma arte universal, e não dependente de tropicalismo e regionalismo europeu. Muito obrigado!
Como você acabou de ver, não, não responderia isso, não. Eu só acho engraçado você dizer “arte universal” logo depois de mencionar uma arte especificamente indiana, transmitida tradicionalmente por gurus e cujo tratamento dos símbolos é totalmente hindu.
Mas eu é que agradeço a oportunidade de explicar isso melhor.
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